Desde o ano de 2012, como muitos devem saber, o boto-cinza, nome científico Sotalia guianensis, passou a ser considerado patrimônio natural do nosso município (Lei nº. 832, de 26/10/12), de modo que o animal tornou-se alvo de várias propostas tanto do Poder Público como da sociedade civil. Iniciativas como o turismo de observação e a criação de uma unidade de conservação ambiental de uso sustentável têm sido executadas aqui em Mangaratiba com grandes expectativas de sucesso para todos.
Quanto ao turismo de observação, cuida-se de passeios guiados e agendados que partem duas vezes ao dia do cais de Itacuruçá. Na data da saída, os participantes precisam comparecer, no horário marcado, à sede do Instituto Boto Cinza (IBC) para receber informações sobre os procedimentos e regras da atividade. Somente após esta etapa é que os interessados podem então se dirigir ao Centro de Informações Turísticas do Distrito onde é adquirido o ingresso para então embarcarem. O tempo para a observação dos botos dura no máximo 20 minutos, conforme estabelecido por Lei, e apenas duas embarcações podem se aproximar do grupo de animais observados por cada vez.
Sobre a criação da Área de Proteção Ambiental (APA) Marinha Boto Cinza, eis que, na manhã do dia 23/10, ocorreu uma importante consulta pública no Centro Cultural Cary Cavalcanti. Foi um evento promovido pela Secretaria de Meio Ambiente, Agricultura e Pesca da Prefeitura de Mangaratiba afim de que a sociedade pudesse conhecer e se manifestar acerca da proposta. Estiveram na reunião representantes de diversos órgãos governamentais, militantes do IBC, pescadores artesanais bem como pessoas da comunidade. E, conforme foi exposto, a futura unidade de conservação vai ter uma sede e deverá abranger praticamente todo o espaço da Baía de Sepetiba situada dentro do nosso município.
Acredito que, se a Câmara Municipal aprovar a lei de criação dessa APA marinha, teremos uma grande oportunidade de desenvolver um trabalho de qualidade em Mangaratiba, ainda que as visitações diárias fiquem restritas a apenas dois passeios diários. Pois para o ponto de vista do turismo ecológico, a divulgação do boto juntamente com a unidade de observação servirá de referencial para atrair pessoas do país inteiro e também do exterior para conhecer a nossa região.
Sendo assim, penso que espalhar cartazes pelo território do Município ainda seria pouco porque o que Mangaratiba precisa mesmo é fazer do boto a sua principal logomarca através da qual ficaremos mundialmente conhecidos. Decorar cabines dos telefones públicos com uma escultura do animal, construir monumentos em praças e nos calçadões das praias, adaptar as lixeiras na orla para que lembrem o cetáceo, além de investimentos em publicidade nas entradas dos distritos ao longo da rodovia Rio-Santos, seriam importantes estratégias de marketing para recebermos mais visitantes na cidade.
Por outro lado, os empresários e a sociedade devem colaborar afim de que a imagem do boto fique popularizada. Ou seja, o comércio local (e não apenas a loja do IBC) pode passar a vender em grande escala camisetas, chaveiros, bonés, golfinhos de pelúcia e brinquedos em geral pois são objetos que, no fim das contas, acabam virando meios de divulgação de Mangaratiba. Também a decoração dos quiosques passaria a seguir um novo padrão estabelecido pela Prefeitura capaz de promover o animal já que seus proprietários são uma espécie de permissionários do Município devendo se sujeitar às normas locais (leis e decretos municipais).
Pensando desta maneira, Mangaratiba estará dando um grande passo para desenvolver-se turisticamente porque passaremos a atrair uma nova clientela mais interessada na contemplação da natureza enquanto que, simultaneamente, iremos preparar o ambiente para um choque de ordem ecológico capaz de educar os nossos visitantes. E aí, como consequência de todas essas ações, haveria uma aumento da arrecadação, mais oportunidades de negócios, geração de emprego e renda, a formação de uma opinião favorável ao investimento de verbas públicas em projetos conservacionistas das espécies marinhas da APA, dentre inúmeros outros benefícios diretos/indiretos pra cidade.
Nossa Baía de Sepetiba é uma das maiores do Brasil, com 536 quilômetros quadrados. A população de botos estimada em suas águas fica entre 739 e 2.196 animais, os quais utilizam a região para se alimentar, reproduzir, socializar, descansar e se deslocar. Por isso mais do que nunca precisamos estudar maneiras adequadas para desenvolver a região e que, ao mesmo tempo, financiem a proteção das espécies hoje ameaçadas nesse sensível ecossistema marinho. Logo, será pela promoção da imagem do cetáceo que poderemos obter as esperadas melhorias tanto na área ecológica quanto na economia local, conciliando o turismo com o meio ambiente.
OBS: Imagem acima extraída de uma notícia da Agência Brasil com créditos autorais atribuídos a Wilson Dias, conforme consta em http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-10/mpf-cobra-fiscalizacao-para-evitar-mortes-de-botos-na-baia-de-sepetiba-no-rio
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