quinta-feira, 16 de julho de 2015

A leitura bíblica nas sessões da Câmara de Mangaratiba




Nesses dois meses e meio que estou trabalhando na Câmara Municipal de Mangaratiba, já ouvi gente reclamando da leitura bíblica que é realizada pelos vereadores no começo de cada sessão da casa legislativa. Há quem argumente que o Estado brasileiro, por ser laico, não poderia admitir que se faça a devoção do livro sagrado de uma religião específica, mesmo se tratando do credo da maioria da população.

Entretanto, não sou contra que os nossos edis leiam versículos da Bíblia em reuniões públicas pois, do contrário, haveria uma flagrante repressão às liberdades de pensamento e de expressão, o que viola frontalmente a Constituição da República. Inclusive porque não pode o Estado laico ir contra as manifestações religiosas das pessoas, exceto quando estas perturbam a paz social, o que não é o caso do devocional dos vereadores de Mangaratiba.

Mas ao mesmo tempo em que o laicismo estatal impõe o respeito de todos pelas diversas religiões, também exige dos entes federativos (e dos três Poderes) uma postura de neutralidade, no sentido de se absterem quanto à promoção de qualquer credo. E aí, mesmo sendo predominantemente cristã a população de Mangaratiba, reconheço que deve haver limites e critérios.

Confesso que não é fácil para quem é um cristão protestante, como eu me identifico, assumir uma posição dessas. Porém, a conclusão que chego é que tanto a Bíblia quanto qualquer outro livro considerado sagrado para as demais religiões, bem como a literatura não religiosa, poderiam preencher esse devocional do início das sessões da Câmara Municipal de Mangaratiba. Por exemplo, se algum dos nossos representantes achar por bem recitar o trecho de alguma sura do Corão, livro sagrado do Islã, será possível. Se outro legislador considerar que é mais proveitoso lembrar de um poema de William Shakespeare (1564-1616), terá todo o direito de fazê-lo.

Portanto, compartilho aí a minha sugestão para que as ocasiões de leitura bíblica nas sessões da Câmara Municipal passem a ser momentos de reflexão do pensamento baseados em qualquer tipo de texto, quer se trate de literatura religiosa ou secular. Pois agindo assim a nossa Casa de Leis não estará privilegiando uma crença em detrimento de outras, porém agirá de acordo com o pluralismo de uma sociedade que é multicultural.

Finalmente, esclareço aos meus irmãos em Cristo que, embora eu tenha o desejo de atrair pessoas para o discipulado de Jesus, reconheço o quão democrático deve ser a leitura reflexiva no início das sessões do Legislativo Municipal. Evangelizar para mim é antes de mais nada dialogar e não impor um ponto de vista. Cuida-se de algo que deve ser espontâneo e nunca obrigatório. Por isso o vereador designado a fazer a leitura deve ter a liberdade de escolha se prefere citar um salmo de Davi, uma parábola do Novo Testamento, um pensamento de Platão, de Karl Marx, de Confúcio ou de um mestre indiano da atualidade. E se na hora o leitor achar que não há livro melhor do que a Bíblia para ser lido em público, a ponto de dispensar outros textos, que assim o faça. Amém!

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