Quarta passada, quando fui acompanhar minha esposa numa consulta com seu médico em Paracambi, tendo trafegado por um trecho do recém inaugurado Arco Metropolitano, passamos junto ao Aterro Sanitário de Seropédica para onde são transportados os resíduos sólidos daqui de Mangaratiba e também de outros municípios. No trajeto volta, sendo já noite, observei duas chamas no local, dando a entender que o lixo estava sendo queimado com o lamentável despejo de dióxido de carbono na atmosfera e contribuindo para aumentar ainda mais o efeito estufa.
No entanto, o lixo que produzimos pode muito bem receber aproveitamento energético!
Conforme li recentemente na internet, eis que, no começo do mês, a Usina de Tratamento de Biogás do Aterro Dois Arcos, inaugurada dia 4 em São Pedro da Aldeia, vai transformar em gás natural cerca de 600 toneladas de lixo produzidas diariamente por oito municípios da Região dos Lagos, que formam o consórcio que construiu o aterro sanitário de lá. Tal projeto recebeu investimentos de apenas R$ 18 milhões, o que podemos considerar um valor acessível tendo em vista a sua importância econômica e ambiental.
Embora a usina de São Pedro da Aldeia ainda não esteja ligada à rede da Companhia Estadual de Gás do Rio de Janeiro (pois é preciso que um gasoduto seja construído), espera-se que o biogás produzido no local, após comprimido, seja entregue a um consumidor industrial. Também nesta fase inicial, o gás obtido deve abastecer os caminhões que fazem o recolhimento do lixo e os veículos da própria companhia, os quais funcionarão abastecidos com GNV.
Pelo que se sabe, o CTR de Seropédica foi projetado para gerar energia, sendo que o aproveitamento do lixo para a produção de gás pode muito bem evitar o lançamento na atmosfera de centenas de milhares de toneladas de dióxido de carbono nos próximos anos e ainda gerar créditos de carbono, os quais são emitidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Além disso, conforme a opinião do pesquisador da Coppe-UFRJ, Luciano Basto, o Brasil economizaria cerca de R$ 32 bilhões por ano caso reaproveitasse todo o lixo produzido. E, se a conta incluir os resíduos da pecuária confinada e da agricultura, a economia então ultrapassaria R$ 100 bilhões anuais! Para ele, o tratamento e destinação adequadas dos resíduos não só resolvem questões sanitárias como permitem que o gás que seria naturalmente produzido (e iria poluir a atmosfera) fique armazenado para o aproveitamento energético. Foi o que esclareceu numa matéria da Agência Brasil:
"Pode servir para geração elétrica no local ou fora, transportado por caminhões; para fins veiculares; e até para injeção na tubulação de gás que distribui pelo estado. Aí, pode ser usado para comércio, indústria, residência".
Na avaliação do citado pesquisador, o caminho economicamente viável e ambientalmente mais adequado seria "pensar na substituição de combustível veicular, porque o Brasil é importador de diesel e gasolina, que podem ser substituídos por biometano". Isto porque o gás tratado é competitivo do ponto de vista financeiro na comparação com combustíveis líquidos visto ser vantajoso para a balança comercial do país. Logo, o combate ao desperdício, por meio da substituição de combustíveis importados, representaria um ganho de produtividade imediato.
Assim sendo, penso que poderíamos ter em nossa região experiência semelhante aos municípios do litoral-norte fluminense. Os aterros sanitários certamente não são a melhor solução para o lixo do ponto de vista ecológico já que até hoje é polêmico o fato da localização do CTR de Seropédica estar situada justo sobre o estratégico aquífero Piranema. Entretanto, trata-se de algo bem melhor do que os antigos lixões hoje proibidos por lei em que devemos tirar o melhor proveito econômico, ambiental e social desse momento.
OBS: A ilustração acima refere-se ao Centro de Tratamento de Resíduos de Seropédica para onde é transportado o nosso lixo de Mangaratiba sendo que a foto foi extraída de uma página da Agência Brasil com atribuição de autoria ao repórter Vladimir Platonov, conforme consta em http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/galeria/2013-02-17/moradores-de-chapero-na-regiao-metropolitana-do-rio-protestam-contra-instalacao-do-novo-centro-de-tra
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