Tem-se falado frequentemente que a passagem da seleção italiana de futebol por Mangaratiba deixará um "legado para a cidade" sendo que muitos apostam na grande divulgação que teremos durante os breves dias da Copa. Tanto as autoridades daqui quanto alguns jornais locais andam criando uma enorme expectativa em torno disso, o que para mim acaba parecendo um superdimensionamento de um fato ainda esperado.
Não nego que a escolha da Azurra em fazer daqui o seu lugar de treinamento seja uma oportunidade para a promoção do turismo. Porém, não acho que este fim consiga ser alcançado apenas com o curto período de mídia que, indiretamente, a cidade irá obter durante Mundial. Pois há muita coisa para ser feita em termos de estrutura e limpeza para que possamos receber melhor as pessoas que hoje nos visitam sem lhes causar decepções.
Neste último sábado (05/04), estive em Jaguanum e pude verificar o quanto a ilha carece de um bom planejamento para recepcionar turistas no local. Se em tempos passados grandes navios aportavam lá, o que era de um certo modo danoso ao ambiente, eis que, de uns anos para cá, o lugar acabou se tornando meio esquecido no aspecto do ecoturismo. Penso ser preciso haver mais controle sobre as novas edificações bem como um cuidado maior em relação às trilhas através da colocação de placas tanto de orientação como de alerta para os visitantes respeitarem a natureza, visto que inexistem mapas e informações sobre os nomes das praias. Falta, assim, a definição de um ponto principal para o desembarque lá bem como roteiros, sendo que um caminho que antes atravessava a ilha de uma lado ao outro, indo pelo seu interior, foi retomado pela floresta.
Mas eu citei Jaguanum como um exemplo porque o problema se repete em outros lugares de Mangaratiba. Acrescento aí os casos de Guaíba, onde também o mato fechou praticamente todos os acessos por terra antes existentes, bem como lá em Batatal (conferir os artigos Promover o turismo na ilha de Guaíba e As trilhas de Mangaratiba). Em Muriqui, o histórico caminho que vai da cachoeira do distrito até Rubião, na Serra do Piloto, embora ainda seja possível trafegar por ele, é preciso trabalhar melhor a trilha afim de que o turista inicie e conclua o seu passeio com maior satisfação. Aliás, basta nos compararmos com a razoável estrutura existente lá na Ilha Grande em que o município vizinho de Angra dos Reis soube valorizar as coisas comuns transformando-as em atrativos.
Embora eu esteja focando mais na precariedade de estrutura em relação ao ecoturismo, não nego que o problema também se manifeste em outras áreas. Seja em relação à nossa fraca agenda cultural, à desorganização dos serviços públicos, à falta de segurança e ao saneamento básico. E aí faço o devido alerta para que a esperada divulgação durante a hospedagem da Itália em Mangaratiba não venha a se tornar uma faca de dois gumes. Isto porque, da mesma maneira como o país tem sido mal falado lá fora com a sua população se revoltando devido aos abusivos gastos com estádios, muita coisa errada pode vir à tona por aqui. Logo, temos que tomar o devido cuidado para que a nossa cidade não vire piada no Brasil inteiro e também no exterior quando as TVs de várias nacionalidades mostrarem o esgoto sendo vergonhosamente despejado in natura nos rios sujando as praias.
De modo algum quero sugerir que se faça alguma manifestação política durante a estadia do time da Itália porque tudo tem o seu momento certo para acontecer. Quero, porém, que aprendamos a nos preparar melhor para trabalharmos eficientemente com o turismo, o qual é uma indústria sem chaminés capaz de gerar emprego e renda para os nossos munícipes. Daí a importância de haver uma atenção mais detalhada quanto à estrutura e repensarmos a abordagem que é feita aos visitantes.
Minha proposta, amigos, seria que, além dos dois centros de informações turísticas, tenhamos equipes da Prefeitura atuando em pontos estratégicos nas localidades de Muriqui e de Conceição de Jacareí nem que seja armando uma tenda na orla marítima. Também no Centro de Mangaratiba, quando os viajantes se enfileirarem para entrar na barca da Ilha Grande, considero oportuno que, em dias mais movimentados, tenhamos agentes municipais bem treinados apresentando as opções de passeios na cidade, afim de que esse público deseje retornar e conhecer os nossos atrativos. Então, como nem todos conseguem lugar na embarcação devido ao horário de partida e ao limite de passageiros, alguns turistas poderão mudar seus roteiros resolvendo explorar o município.
Para concluir, lembro que esse período de baixa temporada, entre março e junho, é quando a Ilha Grande recebe um turismo de qualidade caracterizado por visitantes que viajam afim de apreciar a natureza diferentemente do que ocorre durante as férias escolares, Carnaval e feriadões. Trata-se do público ideal para desenvolvermos o ecoturismo em Mangaratiba sendo que muitas dessas pessoas passam pela cidade sem nem ao menos saberem das nossas belezas que estão aí para serem conhecidas e saboreadas. Logo, se tivermos um pouquinho mais de atenção, conseguiremos alcançar esse mercado.
OBS: Foto acima extraída de uma notícia do site da Prefeitura de Mangaratiba em http://www.mangaratiba.rj.gov.br/portal/noticias/itacuruca-turismo-nautico.html
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