terça-feira, 27 de maio de 2014

Passeios eco-culturais na Ilha da Marambaia




Penso que os habitantes de uma cidade deveriam conhecer suficientemente o território do município onde vivem. Porém, verdade seja dita que, em nossa querida Mangaratiba, o turismo interno ainda não é possível de ser realizado com plenitude em toda a sua extensão para a maioria das pessoas moradoras daqui. Isto porque, além do acesso a algumas das ilhas custar relativamente caro por causa da viagem de barco, existem também restrições para o interessado conseguir entrar em determinados locais. Uma dessas áreas seria a Ilha da Marambaia.

Tendo sido um dos primeiros assentamentos dos índios tupiniquins trazidos da Bahia para Mangaratiba, por volta de 1620, sob a tutela dos padres jesuítas, a Marambaia possui séculos de história. Uma longa história que, aliás, poucos sabem assim como desconhecem a sua comunidade quilombola representada pela ARQIMAR (Associação da Comunidade dos Remanescentes de Quilombo da Ilha da Marambaia) e a exuberante natureza bem conservada contendo: praias, florestas, cachoeiras, restinga de mangues, além de um pico com 647 metros de altitude possível de ser alcançado por meio de uma trilha sem a necessidade de escalada.



Consta que o primeiro documento formal da posse da Ilha da Marambaia data de 1856, em nome do Comendador Breves. Durante o período da escravidão, a ilha era mantida por seu dono como local de "engorda" de escravos contrabandeados afim de serem depois vendidos para outras fazendas. Pouco antes de morrer, em 1889, Breves doou, verbalmente, toda ilha para os ex-escravos que ainda permaneciam nela. Porém, tal decisão não foi respeitada e, com a abertura do processo de inventário, as terras acabaram sendo transmitidas para sua viúva Dona Maria Isabel de Morais Breves. No ano seguinte, a ilha foi vendida à Companhia Promotora de Indústrias e Melhoramentos e, posteriormente, em 1896, por motivo de liquidação forçada da referida Cia, a propriedade restou transferida para o Banco da República do Brasil. Com a aquisição da Ilha da Marambaia pela União Federal, a região foi colocada à disposição da Marinha do Brasil que instalou ali a Escola de Aprendizes-Marinheiros, em 1908. E, na década de 1940, durante a era Vargas, a comunidade da ilha veio a ser beneficiada com um instituto de pesca. Segundo informações constantes no site da Marinha,

"(..) através do Decreto-Lei nº 5.760, uma parte da ilha da Marambaia foi cedida à Fundação Abrigo do Cristo Redentor, para a instalação da Escola de Pesca Darcy Vargas. Nessa época, ocorreu um fluxo migratório de trabalhadores e familiares oriundos do continente em busca de emprego e oportunidades, ocupando determinados pontos da ilha. Esta porção, de 8,5 km², fio incorporada ao patrimônio da citada fundação entre 1944 à 1971, quando, por força do Decreto 68.224, de 12 de fevereiro de 1971, foi reintegrada ao patrimônio da União, por meio de um novo Termo de Entrega para a Marinha do Brasil, bem como todo o acervo móvel, imóvel e contratos de trabalho da escola de pesca. Durante o período em que a Escola de Pesca permaneceu na Ilha, a Marinha contava com o Campo de Aviação da Armada, que ocupava o restante da Ilha. No mesmo ano, 1971, ocorreu a ativação do Campo da Ilha da Marambaia, no local onde ficava a extinta escola de pesca. Em 1981, foi criado o Centro de Adestramento da Ilha da Marambaia (CADIM), lá situado até os dias de hoje." (extraído de http://www.mar.mil.br/cgcfn/marambaia/index.htm)

Assim, por se tratar atualmente de uma área militar, não é permitido o acesso de pessoas à Marambaia sem autorização prévia da Marinha. Esta, duas vezes por dia, provê transporte marítimo gratuito para a população civil por meio de embarcações, bem como seus familiares e convidados nos mesmos horários de utilização dos militares. Mas, se um turista decide por sua própria conta ingressar na ilha, mesmo se valendo de um transporte próprio ou alugado, o desembarque lá não é permitido.



Embora não considere adequado que a Marambaia receba um turismo massificado e predatório como vem ocorrendo há tempos na Ilha Grande, entendo ser viável que, através de um convênio entre a Fundação Mário Peixoto (FMP) e a Marinha, sejam promovidos passeios guiados por lá. Falo de algo semelhante ao que entidade começou a fazer a partir de março de 2012 conduzindo visitantes num único evento às ruínas do Sítio Arqueológico do Sahy, ao antigo teatro e armazém de café, à Estrada do Atalho, à Estrada Imperial, ao Bebedouro, ao Mirante, à Cachoeira dos Escravos, à Serra do Piloto, ao Cruzeiro, à Ponte da Serra e ao Parque Arqueológico de São João Marcos já no município vizinho de Rio Claro, que é o destino final. Assim, sem também cobrar pelos serviços, a FMP formaria grupos quinzenais condicionados a uma inscrição prévia e limitados a um número máximo de pessoas em que o ponto de encontro seria no centro de informações turísticas de Itacuruçá. Ali a Capitania dos Portos conferiria a identidade dos nomes das pessoas listadas pela fundação antes de permitir a entrada na embarcação da Marinha que parte da sede do distrito pela manhã.

Acredito que, se agirem de tal maneira, a FMP e a Marinha não só estariam colaborando com o turismo sustentável na Ilha da Marambaia como também democratizando o acesso à cultura e aos espaços protegidos dentro do nosso município. Mais do que nunca se criaria uma oportunidade incrível para as pessoas de Mangaratiba conhecerem um lugar de notável interesse histórico, ambiental e paisagístico. Algo tão importante quanto o passeio no Sahy, nas ruínas do Saco, Serra do Piloto e em São João Marcos.



OBS: Fotos acima extraídas de um site da Marinha do Brasil sobre a Ilha da Marambaia cuja página principal é http://www.mar.mil.br/cgcfn/marambaia/index.htm

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