sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A Ilha de Itacuruçá




Um dos lugares da nossa região que considero ao mesmo tempo mal assistido e potencialmente ameaçado pelo desenvolvimento desordenado é a Ilha de Itacuruçá.

Trata-se de uma porção de terra, com 10 milhões de metros quadrados, muito próxima ao continente, acessível somente por meio de embarcações e que é dividida por dois municípios: Itaguaí e Mangaratiba. Possui significativas áreas verdes, animais silvestres, algumas praias bem frequentadas no calor, casas de veranistas, uma população fixa de residentes, pequenas plantações e trilhas convidativas para inesquecíveis passeios ecológicos. Com uma boa dose de disposição, dá para circundar seus 20 quilômetros de perímetro a pé e ainda fazer a travessia da Gamboa à sua Praia Grande por dentro da floresta, subido um morro.

Entretanto, é essa proximidade do continente que muito me preocupa, seja por causa das pressões do mercado imobiliário, do turismo predatório, da falta de tratamento de esgoto e da expansão das atividades portuárias. Temo que o lugar acabe tendo o mesmo destino da vizinha Ilha da Madeira hoje irreversivelmente impactada pelos empreendimentos da Marinha e do empresário Eike Batista cujas obras já descaracterizaram suas belas paisagens ao mesmo tempo em que transtornaram o cotidiano de uma comunidade.

Penso que a Ilha de Itacuruçá precisa simultaneamente de um plano inteligente de urbanismo e de proteção ambiental por meio de uma ou de mais unidades de conservação da natureza. Pois considerando tanto as áreas verdes de interesse ecoturístico quanto as necessidades da população residente, ambas as ações tornam-se plenamente justificáveis podendo ser compatibilizadas.

No caso da proteção do espaço marítimo-territorial da ilha, talvez seja sugestivo termos ali uma Área de Proteção Ambiental (APA) estadual, sob os cuidados do INEA, devido aos conflitos de gestão dos municípios de Itaguaí e de Mangaratiba. E, como existem pessoas morando lá, além de pequenas atividades econômicas desenvolvidas pelos próprios habitantes locais, há que se escolher um tipo de unidade de conservação de uso sustentável que, no artigo 15 caput da Lei Federal n.º 9.985/2000, corresponde à APA:

"A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais."

Todavia, nada impede que, sobrepondo-se à área de proteção ambiental estadual, o órgão ambiental da nossa prefeitura estude a criação de um pequeno parque ecológico nos trechos não habitados ou de fraco povoamento já que as terras precisarão passar por um processo de desapropriação. Isto reservaria importantes parcelas da ilha para que se mantenham preservadas, tenham a vegetação original restaurada, recebam uma regrada visitação de turistas (inclusive nas praias) e venham a ser contempladas com recursos de projetos de pesquisas vindos de ONGs, instituições de ensino e dos governos.

Sobre os planos de urbanização, idealizo algo compatível com a realidade ambiental da ilha. Sou favorável a projetos de estações biológicas de tratamento de esgoto bem como à sua ligação com o continente através da construção de uma estreita ponte em Itacuruçá com uma cancela que permita a passagem de apenas um veículo. Porém, nada de asfaltamento nas ruas ou de uma estrada para os pontos menos povoados. Pois considero mais adequado que se incentive o  transporte por meio de bicicletas de modo que somente ambulâncias, viaturas da polícia, veículos oficiais, vans autorizadas, ônibus de linha, táxis e os automóveis de moradores com dificuldades de locomoção teriam direito de acesso. Caminhonetes só trafegariam em determinados horários para fins de frete ou de entrega de mercadoria nos estabelecimentos comerciais. Já as "magrelas" teriam trânsito livre assim como os triciclos, cavalos e carroças.

Acredito que, com um planejamento sério, independentemente da construção da tal ponte, podemos gerar emprego e renda através do aluguel de bicicletas para turistas, passeios de charrete, da formação de grupos guiados de caminhada ecológica e da prática de esportes em meio à natureza. Tudo isso revolucionaria o lugar criando condições de sustentabilidade ambiental na ilha e, por sua vez, melhoraria a qualidade de vida dos moradores. Mas é claro que as unidades de conservação precisam vir primeiro para se prevenir o desenvolvimento desordenado. Principalmente a APA!

Finalmente quero compartilhar a opinião de que a totalidade da Ilha de Itacuruçá deveria pertencer somente a Mangaratiba, o que facilitaria em muito a sua administração. Assim sendo, uma só prefeitura prestaria os serviços de interesse local sendo certo que uma proposta de anexação pelo nosso município do trecho itaguaiense é respaldada pela proximidade da sede do 3º Distrito. Aliás, o seu próprio nome já diz isto.

Um excelente final de semana para todos!


OBS: A ilustração acima refere-se à vista panorâmica do 3º Distrito com a Ilha de Itacuruçá ao fundo tendo sido a imagem extraída de uma página do portal da Prefeitura de Mangaratiba na internet, conforme consta em http://www.mangaratiba.rj.gov.br/portal/distritos/itacuruca.html

5 comentários:

  1. Boa tarde equipe do Blog MELHORAR MANGARATIBA... Meu nome é Yuri Borba, sou fotógrafo freelancer, ecologista e aventureiro, e estive com um amigo na Ilha de Itacuruçá, no dia 13 de Outubro de 2015, na tentativa de fazer um mapeamento no intuito de fotografar a paisagem, a fauna e a flora... Isso tudo na trilha que contorna a ilha.

    Mas infelizmente vimos muitos lixo e pessoas acampando na quase deserta PRAINHA... Além de lixo ao longo da trilha até o acesso a praia da BOA VISTA... Sobre as praias de Maria Russa e Águas lindas não tivemos que nenhum problema.... Só que a trilha de Águas Lindas que leva a Praia do Boi e depois Quatiquara se encontrava quase fechada, com muito mato... No trecho entre a praia do Boi e Quatiquara a trilha está quase fechada... Há muito mato e galhos de árvores com espinhos que atrapalham a subida...

    Quando descemos na Quatiquara nos deparamos com a trilha fechada!!! Isso mesmo... Fechada!!! Um senhor fez uma cerca de bambu e fechou a passagem que dá acesso a trilha, impedindo a nossa caminhada...

    Conclusão estive pensando se não tem como fechar uma parceira para melhorar a trilha... e principalmente sinaliza-lá... Além de fazer um multirão de limpeza em algumas praias da Ilha....

    Meu e-mail é: borbayuri@yahoo.com.br
    Meu Facebook é: Yuri Borba

    Aguardo resposta... Um grande abraço a todos...

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    1. Bom dia!

      Sua ideia é interessante. Infelizmente, não tenho condições hoje de participar de um mutirão de limpeza. Moro em Muriqui e temos problemas semelhantes também aqui. Mas acho que o trabalho voluntário precisa ser divulgado e incentivado. Sugiro contato com os órgãos ambientais das prefeituras de Itaguaí e Mangaratiba, além das associações de moradores da Ilha. Vale a pena divulgar sua ideia nas redes sociais, quem sabe criando um grupo no Facebook com o nome "Amigos da Ilha de Itacuruçá". E pode me adicionar que terei muito gosto de ser membro.

      Abraço.

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    2. Em tempo!

      No caso dos órgãos ambientais, eles têm o dever de agir em relação ao lixo para o local ficar limpo.

      Como fez imagens do lugar, sugiro que use as fotos para instruir futuras denúncias. Mutirões de limpeza são bons, mas não podemos ficar enxugando gelo pro resto da vida. Além do frequentador da ilha ter que se tornar mais consciente, cabe ao Poder Público agir.

      Alô, prefeito!

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  2. Boa noite a todos.
    Eu e meu tio fizemos o trajeto,volta completa na ilha dia 08/03/16 iniciando na Flexeira,sentido Gamboa e os mesmos pontos citados em relação a sujeira e matos altos ainda persistem. E essa cerca maluca de bambu que colocaram chegando em Quatiquara,colocaram até a água, impedindo a passagem. Confesso que pulei pra seguir na trilha. É a 4° vez que faço esse trajeto. A ultima vez foi a mais de 10 anos e não tinha isso.
    Próximo de Quatiquara,tem um bambuzal que caiu fechando a trilha. Conseguimos passar com muita dificuldade.
    Se alguém puder ajudar,informando esses problemas pra alguém da prefeitura, seria ótimo. A natureza e praticantes de trilhas agradecem.

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    1. Bom dia, amigo!

      Acho que deveria levar o caso ao Ministério Público e pedir providências tendo como fundamento a questão da limpeza do local e o direito de ir e vir dos ecoturistas que fazem seus passeios no local. Se puder instruir sua denúncia com fotos, melhor.

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